Sabe, eu comecei a te escrever uma carta, mas parei
porque com certeza eu não teria ânimo de te enviar, apesar de querer te dizer
tanta coisa. Você provavelmente iria rir e me chamar de criança, dizer que é
tudo besteira, menosprezá-la e jogá-la em cima daquela mesa junto com as outras
coisas que já te mandei (se é que ainda estão lá).
Eu achei que ia chorar, mas sabe que não? Nem tive
vontade. Acho que te tanto apanhar moralmente com as suas ofensas, meu coração
ficou calejado de qualquer sentimento.
Nos filmes, sempre tem um cara perdido que de
repente encontra uma moça maluca que vira o mundo dele do avesso e eles vivem
uma história muito louca. Eu queria ter sido isso pra você. Alguém marcante e
inesquecível. A diferença é que tudo foi ilusão, e nos filmes, mesmo depois de
um monte de bagunça, os mocinhos ficam juntos no final.
Você me ensinou várias coisas... me ensinou a ver o
mundo de outra forma e abriu minha mente pra muita coisa que não fazia parte do
meu mundinho feliz. Sou grata por isso. O único problema é que eu idealizei em
você um cara que você não é. Idealizei alguém em quem eu podia confiar e que me
amava “incondicionalmente”. E, por fim, descobri que odeio essa palavra com
todas as minhas forças. Porque parece que as pessoas gostam de usá-la, mas não
compreendem seu verdadeiro significado.
Eu demorei a perceber que você já tinha ido embora
há muito tempo. Na verdade, demorei pra entender que o seu conceito de “estar
junto” é diferente do meu, então, pra mim,
você nunca “esteve” aqui. E quando eu comecei a notar todas as diferenças, sim,
eu surtei, surtei muito. É pesado demais perceber que mais uma pessoa chegou e
não ficou. Mais uma pessoa que eu amei e que não quis o meu sentimento... eu me
apeguei a você assim como fico agarrada no cobertor em dia de frio.
Eu não sou dessas pessoas que conseguem ser
totalmente racionais em relação aos relacionamentos. E, sinceramente, não quero
ser. Meu erro foi achar que enfim tinha encontrado alguém que iria saber dividir
comigo meus anseios mais profundos, aqueles de alma mesmo, sabe? Não sei se
você sabe.
Exagerei? Sim, eu exagerei. Me arrependo de algumas
coisas. Mas não tudo. Não tudo. Sei que não estive errada em certas
desconfianças. Certas intuições que foram taxadas em unanimidade como PARANOIA.
Paranoia, paranoia, paranoia. Paranoia ou a desculpa/justificativa que você
encontrou pra milhares dos teus erros? Deus sabe.
Não quero teu
mal, só espero que você um dia consiga captar que respeito é bom e todo mundo
gosta. Que os direitos são iguais para todos. Que enganar alguém que te ama não
é nada normal, apesar de todo e qualquer problema que essa pessoa tenha.
Talvez eu tenha
que enfiar na minha cabeça que é “comum” que algumas pessoas tenham vontades
estranhas. Necessidade do flerte, necessidade de uma bobeirinha extra, uma
conversinha fiada, uma foto aqui e ali. Tem gente que diz que não faz mal. Mas
eu não sou essa gente, não acho normal e esse tipo de coisa me faz um mal
tremendo. Eu tenho aqueles problemas de estima e isso me faz sentir pequena e
insuficiente, além do que já me sinto.
Como mudar uma mente adulta é impossível (apesar de
ser tentador o desafio), prefiro abrir mão de tanto desgaste e sigo buscando a
alma que vai me entender e compartilhar comigo o infinito de amor que eu tenho
pra dar. E você não quis.
Em suma,
depois de tanta ausência sua, eu aprendi a viver muito bem sem você. E...
francamente, sem sentir muito a sua falta. Hoje eu sei.
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